Fotos históricas relembram 70 anos do ACNUR
Fotos históricas relembram 70 anos do ACNUR
O ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, foi criado após a Segunda Guerra Mundial, quando milhões de europeus ficaram desamparados: a maioria havia sido forçado a deixar sua casa para trás e os governantes precisavam de ajuda para coordenar a crise. Para proteger essas pessoas, a Assembleia Geral das Nações Unidas assinou o Estatuto dos Refugiados em 14 de dezembro de 1950. Meses depois, em julho de 1951, a Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiadas foi adotada pelas Nações Unidas e estava pronta para outros países assinarem.
Com o passar dos anos, nosso papel mudou - mas proteger pessoas forçadas a fugir e buscar soluções duradouras para eles sempre foi nosso principal foco. Conheça os momentos marcantes de nossa história.
Anos 50
Muita coisa ficou diferente após a fundação do ACNUR. No começo, o plano não era muito ambicioso: além dos fundadores, a equipe só possuía 34 funcionários que idealizavam um mandato de apenas de três anos.
Durante a metade da década de 50, o ACNUR concentrava seus esforços na repatriação voluntária, imigração e garantir a residência de refugiados que optaram por permanecer em seus países anfitriões. Além disso, muitas coisas aconteceram nos primeiros anos da organização: em 1954 o ACNUR se tornou a primeira agência da ONU a ganhar um Nobel da Paz e, em 1956, o mundo foi surpreendido pela Revolução Húngara, aumentando a necessidade de resposta do ACNUR.
Na época, ninguém imaginava a complexibilidade da causa e, com o crescente número de pessoas deslocadas no mundo, o mandato foi estendido.
Anos 60
A década começou com a resolução do “Ano Mundial do Refugiado”, chamando atenção para a crescente necessidade daqueles que deixaram tudo para trás. Desta maneira, o ACNUR percebeu que seu mandato abrangia muito mais do que os afetados pela Segunda Guerra Mundial e que os esforços para proteger as pessoas deslocadas estava apenas começando.
Um grande marco da década foi a Convenção para a Redução da Apátrida, assinada em 1961, e que representava o primeiro empenho para países diminuírem a não-cidadania em seus territórios. Os anos seguintes foram marcados por Convenções que levaram o mandato do ACNUR para outras parte do mundo, como o Protocolo de 1967, que abrangeu a definição de refugiado e a Convenção da OUA (Organização da Unidade Africana), responsável por providenciar o escopo legal para a atuação da Agência no continente africano.
Anos 70
Em 1970 o ACNUR iniciou suas operações na América Latina, África e Ásia, marcando definitivamente sua chegada em outras partes do globo. No começo da década, cerca de 1 milhão de refugiados estava sob a tutela da organização.
Com o passar dos anos, o ACNUR também fez parte de tarefas especiais. Em 1974 desembarcou na América Latina e, no ano seguinte, ajudou a população Indochinesa deslocada e a repatriação de refugiados retornandos de Guiné-Bissau e Moçambique. Esses esforços e muitos outros serviram para reafirmar o papel da organização como protetora da população deslocada e seu papel pioneiro em promover soluções duráveis. Com isso, o mandato do ACNUR foi novamente extendido, agora, até 1979.
Anos 80
O começo da década foi marcado com mais um reconhecimento pelos esforços do ACNUR em cuidar da população deslocada e, em 1981, a organização recebeu o seu segundo Nobel da Paz. O prêmio foi concedido como saudação pelo trabalho do ACNUR na Ásia, África e América Latina durante os anos 70. Além disso, todo o dinheiro recebido foi distribuído para beneficiar os refugiados.
Porém, inúmeros conflitos continuaram chamando a atenção do ACNUR e exigindo respostas mais complexas e sofisticadas. Um dos casos mais emblemáticos foi a crise na América Central, que deslocou quase 2 milhões de pessoas vindas de El Salvador, Guatemala e Nicarágua. Como resposta, em 1984 foi assinado a Declaração de Cartagena sobre Refugiados, fortalecendo o escopo internacional de proteção e assistência humanitária para necessidades específicas da América Central, que não eram contempladas nas diretrizes anteriores.
Com a mudança, a definição de refugiado na região passou a incluir todos aqueles ameaçados pela violência generalizada, agressão estrangeira, conflitos internos e violação massiva dos direitos humanos.
Apesar das novas demandas e crises, o ACNUR permaneceu em campo para as emergências que já estavam em andamento e manteve programas de assistência, sobretudo no Paquistão. Estima-se que em 1986, o país acolhia 2.9 milhões de refugiados afegãs, que na época era a maior população refugiada no mundo.
Anos 90
É impossível pensar nos anos 90 sem lembrar das crises que borbulharam na superfície do mundo pós-guerra fria. Foi uma década intensa, sobretudo nos seus primeiros anos onde conflitos étnicos, tribais e religiosos se multiplicaram pelo mundo. Bósnia e Herzegovina, Ruanda e Nepal são apenas alguns dos países que sofreram com a violência da época.
E, diante eventos complexos, respostas cirúrgicas e eficazes foram entregues. Na Guerra da Bósnia, causada por conflitos étnicos, guerras de independências e marcadas pelas políticas genocidas, o Comitê Executivo do ACNUR percebeu que a situação era muito mais vulnerável para mulheres. Por isso, foi estabelecido a Política para Mulheres Refugiadas, feita para garantir direitos e assegurar que os programas de assistência humanitária atendessem às necessidades particulares de cada grupo.
Em Ruanda, o ACNUR vivenciou a maior e mais súbita emergência até então, sendo surpreendido com o êxodo de 2 milhões de pessoas que abandonaram seu país para fugir do conflito étnico. A crise humanitária na região desafiou os limites da organização e sua ajuda humanitária, sobretudo pela contínua violência à população deslocada e violação dos direitos humanos. Como resultado, em 1997, o ACNUR foi obrigado a suspender as atividades para refugiados ruandeses na República Democrática do Congo.
Anos 2000
O começo do século 21 marca os 50 anos da Agencia e superou qualquer expectativa dos seus fundadores – que imaginavam que a agência duraria apenas 3 anos e estaria limitada ao continente europeu. Com proporções mundiais, o mandato do ACNUR se tornou referência na proteção dos refugiados, deslocados internos e apátridas e, em 2003, a Assembleia Geral da ONU determinou que o trabalho do ACNUR não tinha prazo de validade. Ou seja, ela deixaria de estar presente só quando ninguém mais fosse obrigado deixar seu país e uma vida inteira para trás.
O começo do século foi marcado por triunfos e desafios, este último relacionado aos conflitos que se arrastavam há anos. Entre os grandes feitos, em 2002, o ACNUR supervisionou o maior repatriamento de refugiados já visto em três décadas. Cerca de 2 milhões de afegãos que estavam refugiados no Irã, Paquistão e repúblicas da Ásia Central retornaram ao seu país. Aos 3 milhões que resolveram permanecer nos territórios anfitriões, foram estabelecidos sistemas de asilo e políticas para garantir a integração socioeconômica.
No final da década, estima-se que mais de 40 milhões pessoas foram forçadas a se deslocar, o maior número desde a metade dos aos 90. Desses, mais da metade estavam no Afeganistão e no Iraque.
Anos 2010
Nos últimos 10 anos, pelo menos 100 milhões de pessoas foram forçadas a deixar suas casas. Estima-se que o 1% da população mundial esteja deslocada e enfrentando situações de vulnerabilidade pelo refúgio, deslocamento interno e apatrídia. Essa é a consequência das novas e antigas crises, que continuam a tornar o futuro incerto par a população deslocada.
Apesar das crises na Somália, Iêmen, Síria, Sudão do Sul, Etiópia, Venezuela e do povo Rohynga ainda estarem ocorrendo, elas correm o risco de caírem no esquecimento. Conforme novas emergências surgem, elementos externos desafiam constantemente a capacidade de resposta e atuação do ACNUR, que segue respondendo à altura.
A pandemia da COVID-19 e as consequências do aquecimento global, que popularizaram o termo “refugiado climático”, estão entre os novos obstáculos para a Agência e exigem respostas mais assertivas, inovadoras e resilientes. Os tempos mudaram, nossa missão, não.