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Governo do Brasil anuncia projeto de lei para proteger pessoas sem pátria

Comunicados à imprensa

Governo do Brasil anuncia projeto de lei para proteger pessoas sem pátria

Governo do Brasil anuncia projeto de lei para proteger pessoas sem pátriaO Ministério da Justiça apresentou ontem projeto de lei que cria o processo de determinação da condição de apátrida no Brasil, estabelecendo direitos e obrigações para estas pessoas.
14 Agosto 2014

Brasília, 14 de agosto de 2014 (ACNUR) – O Ministério da Justiça apresentou ontem projeto de lei que cria o processo de determinação da condição de apátrida no Brasil, estabelecendo direitos e obrigações para estas pessoas. O texto, anunciado pelo Secretário Nacional de Justiça, Paulo Abrão, é resultado de um trabalho conjunto com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e deverá ser enviado ao Congresso Nacional no próximo ano.

Segundo as convenções da ONU, os apátridas são as pessoas que não possuem vínculo de nacionalidade com qualquer país. A ONU estima que existam cerca de 10 milhões de apátridas em todo o mundo.

De acordo com o texto apresentado pela Secretaria Nacional de Justiça, o Brasil reconhecerá como apátrida qualquer pessoa que “não seja considerado como nacional ou cidadão por nenhum Estado”, como também quem não puder comprovar sua nacionalidade “por circunstâncias alheias à sua vontade”.

Uma vez determinada a situação de apatridia, o apátrida reconhecido pelo Brasil poderá adquirir a nacionalidade brasileira, extensível aos seus dependentes e integrantes do seu núcleo familiar. O projeto de lei determina que o Comitê Nacional para Refugiados (CONARE) será o órgão competente para processar o reconhecimento da condição de apatridia, sendo renomeado como Comitê Nacional para Apátridas e Refugiados.

Para Paulo Abrão, o projeto de lei incorpora à legislação brasileira as convenções internacionais das quais o Brasil é signatário. “Devemos proteger os que não têm pátria”, disse o secretário, lembrando que o projeto de lei é resultado de um compromisso assumido pelo Brasil junto à ONU e ao ACNUR. “Este é um passo muito importante que suprimirá uma lacuna jurídica história sobre definição, competências, procedimentos, direitos e deveres em relação aos apátridas”, afirmou.

“O Brasil é, infelizmente, um dos poucos países signatários das Convenções de 1954 e 1961”, afirma o representante do ACNUR no Brasil, Andrés Ramirez, se referindo à Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas (1954) e à Convenção para a Redução dos Casos de Apatridia (1961).

O anúncio do projeto foi feito durante o seminário “A Erradicação da Apatridia nas Américas: O Papel de Liderança do Brasil”, que contou com conferência do advogado e especialista em Direitos Humanos, Juan Ignacio Mondelli, Oficial Regional de Proteção do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) para o tema da apatridia nas Américas.

“A melhor solução para a apatridia é a prevenção”, disse Mondelli, que considerou o projeto de lei do governo brasileiro “essencial”.  Ele lembrou que o Brasil já possui mecanismos de prevenção de apatridia para os filhos de brasileiros nascidos no exterior, pois a legislação nacional reconhece estas crianças como brasileiras. A medida veio por meio de uma emenda constitucional de 1994, regulamentado por um decreto-lei de 2002 – quando cerca de 200 mil crianças filhas de brasileiros  nascidos no exterior corriam o risco de se tornar apátridas.

Mondelli destacou a importância do projeto de lei no contexto latino-americano, região na qual apenas o México regulamentou o estatuto do apátrida. Segundo ele, os outros países devem seguir o exemplo brasileiro, como ocorreu com a da Lei do Refúgio (1997), em que o Brasil foi pioneiro na região e impulsionou os países vizinhos a adotar legislação semelhante. Mondelli também ressaltou a possibilidade, prevista no projeto de lei, de que o apátrida reconhecido pelo Brasil possa adquirir a nacionalidade brasileira.

O enfrentamento à apatridia é uma das pautas da conferência Cartagena+30, que em dezembro deste ano reunirá em Brasília representantes dos governos da América Latina e do Caribe para consolidar e ampliar as conquistas da Declaração de Cartagena, um marco para a proteção de refugiados, apátridas e deslocados internos na região. Espera-se que os países se comprometam, durante o encontro, a aderir às convenções internacionais sobre apatridia, criar leis nacionais e lançar medidas efetivas para erradicar a apatridia nas Américas durante a próxima década.

“No ano do aniversário dos 60 anos da Convenção da ONU de 1954 sobre o Estatuto dos Apátridas, a iniciativa brasileira é o primeiro passo para que nas Américas se inicie um compromisso com a erradicação da apatridia nos próximos dez anos”, afirma o representante do ACNUR no Brasil, Andrés Ramirez.

 Por Mariana Hollanda, de Brasília