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O que eu aprendi em um campo de refugiados na África Ocidental

Comunicados à imprensa

O que eu aprendi em um campo de refugiados na África Ocidental

22 Dezembro 2020
Varlee S. Fofana, de branco, no campo de refugiados de Kouankan, em Guiné © Varlee S. Fofana

Cresci com os meus pais no campo de refugiado de Kouankan em Guiné, um país da África Ocidental.


Fomos para Kouankan para fugir da Guerra Civil que acontecia em nosso país, Libéria, que faz fronteira com a Guiné. Se antes eu morava em uma comunidade relativamente homogênea, agora, eu vivia em um lugar onde se falava várias línguas, e convivia com diferentes culturas.

No começo foi difícil, já que eu tinha problemas em compreender e me relacionar com as pessoas à minha volta. Como uma pessoa que valorizava muito conversar e passar tempo com os outros, foi complicado quando percebi que minha interação social foi comprometida pelas barreiras culturais e de linguagem.

Porém, eu abracei a minha nova e diversa comunidade e usei meu amor por futebol para me ajudar no contato com outros refugiados.

 

O campo de refugiados me protegeu da violência

A cada ano, nosso campo celebra o aniversário da União Africana e das Nações Unidas. Esses festivais uniram várias zonas do campo para apreciar nossa diversidade e relembrar nossas semelhanças como africanos.

Nesses dias, eu me reunia com outras crianças da minha idade para representar o time de futebol da Zona Sete. Fomos unidos pelo nosso amor compartilhado pelo jogo e nossas  preocupações e lutas foram aliviadas. Naquele momento, eu gostei de ter a oportunidade de me divertir com outros refugiados e conhecê-los melhor.

O campo de refugiados me protegeu da violência e da aparente eterna guerra na Libéria, mas a vida dentro do campo não foi fácil.

Muitas vezes, eu ia dormir com o estômago vazio e tinha que trabalhar em uma série de empregos árduos para sobreviver. Juntei lenha da floresta para vender e arava fazendas para meus vizinhos.

A idade avançada dos meus pais impedia que eles ajudassem no trabalho físico, e grande parte da responsabilidade recaiu sobre mim. Fui forçado a amadurecer rapidamente para fornecer comida e roupas para mim e minha família.

 

Eu aprendi a ser autossuficiente e resiliente

Quando encontrei desafios na minha vida pós-refugiado, eu tive flashbacks das dificuldades em Kouankan. Ainda sim, eu fui grato pela minha experiência no campo.

Em primeiro lugar, pensei, eu aprendi a ser autossuficiente e resiliente diante dos desafios. Quando minha família retornou para a Libéria, após sete anos de exílio, nossas dificuldades nos seguiram. Em vez de ficar desanimado com a situação, continuei sustentando minha família vendendo querosene, pão de arroz, velas e ovos todos os dias na rua.

Em segundo lugar, aprendi como viver com pessoas de culturas diversas. Isso me permitiu lidar com os diversos grupos étnicos na Libéria no pós-guerra, apesar do meu grupo étnico, o Mandingo, sofrer preconceito por ser predominantemente mulçumano.

Terceiro, me tornei mais empático com as lutas dos outros e decidi que queria ajudar a criar um futuro mais estimulante e sustentável para os jovens liberianos.

 

Minha experiência na África Ocidental me ensinou o valor da diversidade

Por quatro anos consecutivos, eu trabalhei com a Iniciativa para Objetivos de Desenvolvimento Educacional e Sustentável da Libéria para organizar quizes, debates e competições de soletração. Nesses eventos, alunos do ensino médio em cinco condados diferentes podiam explorar seus talentos e interesses acadêmicos.

Através do meu trabalho social, aprendi mais sobre os desafios que afetam a Libéria, incluindo a educação precária e a falta de empoderamento dos jovens. No futuro, pretendo desenvolver soluções mais inovadoras para melhorar a educação no país e capacitar a juventude liberiana.

Espero estabelecer escolas gratuitas com instalações de ensino modernas por todo o país. Isso vai ajudar milhares de crianças liberianas fora da escola a descobrirem e perseguirem suas paixões pelo ensino.

Minhas experiências na Guiné como refugiado e na Libéria após a guerra civil não só me ensinaram o poder da resiliência e o valor da diversidade, mas me inspiraram a ajudar outras pessoas e trabalhar para melhorar minha comunidade.

Desejo prosperar na African Leadership Academy para usar esta visão para mudar a narrativa sobre a Libéria e sua juventude.


Varlee S. Fofana é aluno da African leadership Academy na África do Sul. Ele é um liberiano que viveu em Kouankan, Guiné, como refugiado durante a Guerra Civil da Libéria. Essa experiência o inspirou a escrever histórias. Ele é um dos 10 bolsistas do Programa de Preparação da SMART Libéria Educational Advancement College e um ex-aluno embaixador do Yale Young African Scholars. 

Seu relato sobre crescer em um campo de refugiados ganhou o primeiro lugar do 8º Concurso de Histórias do Prêmio no News Decoder. O News Decoder é um serviço de notícias educacionais que ajuda os jovens a entenderem notícias internacionais. 

A Guerra Civil da Libéria eclodiu em dezembro de 1989. Cerca de 750.000 civis liberianos foram deslocados internamente ou se tornaram refugiados. A paz foi reestabelecida em 2003. Com o apoio do ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, cerca de 155.560 pessoas retornaram voluntariamente ao país entre 2004 e 2012.