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Povo indígena Tule luta contra a ameaça de extinção na Colômbia

Comunicados à imprensa

Povo indígena Tule luta contra a ameaça de extinção na Colômbia

Povo indígena Tule luta contra a ameaça de extinção na ColômbiaDentre as muitas tribos indígenas colombianas ameaçadas de extinção, poucas estão em maior risco que os Tule. Há apenas 1.200 deles, nos departamentos de Chocó e Antioquia.
23 Setembro 2010

UNGUIA, Colômbia, 23 de setembro (ACNUR) – Dentre as muitas tribos indígenas colombianas ameaçadas de extinção, poucas estão em maior risco que os Tule. Há apenas 1.200 deles, em três lugares dos departamentos de Chocó e Antioquia, ao nordeste do país.

Um grupo de 500 vive na municipalidade de Unguia, em Chocó, uma área de importância estratégica na fronteira com o Panamá, abundante em madeira, minerais e outros recursos. Infelizmente, essas riquezas têm atraído a atenção de criminosos e grupos armados ilegais nesta última década.

A tranquilidade de vida dos Tule foi abalada inicialmente em 2000-2001, quando os grupos armados penetraram o território isolado de aproximadamente 2.350 hectares e iniciaram uma onda de assassinatos, abuso sexual, intimidação e assédio.

Muitos membros da tribo buscaram abrigo no Panamá ou em outros lugares em Chocó. Mas um grupo central decidiu ficar, temendo que a tribo não sobrevivesse longe das terras ancestrais. “Os Tule são um povo ancestral e dentre seus valores está a proteção do meio ambiente. Por essa razão Pab Dummat [o Grande Pai] nos deu essa terra, para manter e defender nossas tradições,” Pastor, o chefe da comunidade e líder espiritual, disse aos visitantes do ACNUR.

O ACNUR entende e simpatiza com essa preocupação, e é por este motivo que a agência para refugiados está preocupada com a onda de violência que vem acontecendo desde janeiro entre grupos armados rivais na área de Unguia e que tem deixado membros da tribo traumatizados e temorosos por seu futuro – particularmente mulheres e crianças. Metade da comunidade de 500 pessoas abandonou seu território temporariamente no começo desse ano.

“Eu ainda temo por mim, minha família e meu povo. Se eles não saírem de nosso território nossas vidas continuarão em perigo,” disse o filho de Pastor, Ismael.

Pastor, que também representa os Tule a nível provincial, acredita que a tribo deve continuar nas terras de seus ancestrais ou nas proximidades. Ele tem trabalhado com o ACNUR para traçar uma estratégia que previna o deslocamento ou pelo menos garanta que os Tule nunca deixem seu território de maneira permanente.

Essa estratégia inclui permitir que as crianças tenham acesso à educação enquanto sua segurança é garantida, e também inclui proteger o direito dos Tule à terra. O ACNUR está apoiando o desenvolvimento desta estratégia e também ofereceu cursos de direitos humanos para oficiais encarregados de assistir os povos indígenas.

Entretanto, até o momento, Pastor e os Tule estão preocupados com a retomada da violência, desde janeiro, nas proximidades de seu território. Eles temem o recrutamento forçado de seus rapazes pelos grupos armados ilegais e eles se preocupam com a perda territorial, que pode afetar o cultivo e a caça por comida.

Acima de tudo, eles temem uma escalada da violência. “Esses intrusos matam qualquer um,” notou Ismael, quando falava dos conflitos nesse ano. Ele disse que em uma ocasião, depois de uma troca de tiros, “um silêncio intenso e assustador reinou sob o vilarejo”.

E apesar dos enfrentamentos estarem um pouco menos frequentes, a presença dos grupos armados ilegais impede que os membros da tribo se aventurem para muito longe da tribo – e isso está afetando suas vidas.

“Nossa dieta mudou completamente. Não comemos mais carne ou peixe frescos. Se comemos banana uma vez ao dia é suficiente,” disse uma mulher. Os membros da comunidade também encontram dificuldades em chegar às áreas onde podem encontrar plantas medicinais usadas pelos Tule para tratar doenças como febre amarela e malária.

Pastor resumiu o apelo. “Antes, a floresta era nossa floresta. Agora temos medo de aventurar-nos indo muito para dentro. Até alguns anos atrás não sabíamos o que era um conflito armado e agora estamos no meio de um,” ele disse, acrescentando: “nos sentimos em uma prisão a céu aberto”.

Mas os Tule não são o único grupo indígena na Colômbia que pensa em seu futuro com receio. No ano passado a Corte Constitucional do país pediu ao governo que tomasse providências para proteger os Tule e outras 33 tribos classificadas como ameaçadas de extinção. É uma tarefa que o governo leva muito seriamente.

Os grupos ameaçados incluem os Awa e os Embera em Chocó, os Eperara-Siapidara no departamento de Nariño, na costa do Pacífico, e os Jiw e os Nukak nas bases de Guaviare e Guayabero. Nas últimas semanas a violência levou ao deslocamento de membros dos Sicuani em Orinoco Basin e os Wounaan em Chocó.

Além da violência e das invasões em suas terras, os povos indígenas são ameaçados também por outros fatores, como doenças trazidas de fora e poluição da água e comida resultante da fumigação das folhas de coca. O ACNUR quer ver suas terras e seus meios de vida protegidos.

“Há várias áreas que necessitam de progresso para melhorar as condições dos [povos] indígenas na Colômbia,” notou Terry Morel, o representante do ACNUR na Colômbia. “Mas o primeiro passo é proteger sua existência,” ela destacou.

Francesca Fontanini de Unguia e Gustavo Valdivieso de Bogotá, Colômbia