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Refugiados em Camarões constroem grande muralha verde para combater a desertificação

Comunicados à imprensa

Refugiados em Camarões constroem grande muralha verde para combater a desertificação

26 Outubro 2021
Crianças refugiadas com algumas das mudas distribuídas pelo viveiro do campo de refugiados de Minawao. © ACNUR / Xavier Bourgois

“Depois de plantá-la, certifique-se de protegê-la de animais”, Lydia Yacoubou, refugiada nigeriana, aconselha uma jovem refugiada antes de lhe entregar uma muda cultivada no viveiro que ela administra no campo de refugiados de Minawao, no nordeste dos Camarões.


A menina tropeça, carregando o seu irmão mais novo nas costas e agarrando a planta junto ao peito.

Lydia volta a sua atenção para uma dúzia de outras crianças que vieram à procura de árvores frutíferas, acácias ou moringas para plantar ao redor de suas casas. Eventualmente, elas serão fonte de frutas, medicamentos e muito mais.

“As árvores nos trazem muitas coisas", diz Lydia. "Primeiro, fornecem a sombra necessária para cultivar alimentos. Depois, as folhas e ramos mortos podem ser transformados em fertilizantes para o cultivo. Finalmente, a floresta atrai e conserva a água. As chuvas até aumentaram".

Milhões de pessoas refugiadas vivem em áreas vulneráveis às mudanças climáticas, mas não possuem recursos para se adaptar a elas. Nos ajude a mudar essa realidade!

Minawao acolhe quase 70.000 refugiados que fugiram da violência ligada à rebelião do Boko Haram na Nigéria desde 2014. Numa região árida já muito afetada pelas mudanças climáticas, a chegada dos refugiados acelerou o processo de desertificação, uma vez que cortaram as poucas árvores ao redor para lenha.

"Foi crucial encontrar uma solução”

“É difícil descrever a profundidade do impacto que o desaparecimento da floresta teve sobre as populações”, diz Zara Maina, assistente de campo da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR). “O preço da madeira aumentou consideravelmente, causando conflitos com as comunidades anfitriãs. As mulheres foram forçadas a entrar no mato para buscar lenha, expondo-se a potenciais ataques. Os animais tinham cada vez mais dificuldade de se alimentar. Foi crucial encontrar uma solução”.

Diante desse desastre ecológico e humano, o ACNUR e a Federação Luterana Mundial (FLM) lançaram um programa em 2018 com o objetivo de reverter o desmatamento no campo e nas aldeias vizinhas. 

Diante das mudanças climáticas, ficar parado não é uma opção. Você pode ajudar!

Os refugiados recebem treinamento sobre como usar a “tecnologia do casulo”, desenvolvida pela Companhia Land Life, para dar às mudas a melhor chance de sobrevivência no ambiente hostil. A técnica consiste em enterrar um tanque de água em formato redondo feito de caixas recicladas que envolve as raízes da planta e a alimenta com um barbante que se conecta ao broto jovem.   

 

“Desde o início do projeto, 360.000 mudas foram cultivadas no viveiro e plantadas em mais de 100 hectares”, explica Abdul Aziz, coordenador do projeto da FLM. “O campo estava quase desmatado, mas este projeto ajudou a restaurar a vegetação”. 

Pago por uma doação de 2,7 milhões de dólares da Dutch Postcode Lottery, o programa faz parte da iniciativa da Grande Muralha Verde (Great Green Wall), que visa aumentar uma barreira continental de 8.000 quilômetros para combater a degradação da terra, a desertificação e a seca na região do Sahel.

O projeto também faz parte de uma estratégia do ACNUR para reduzir as emissões de gases do efeito estufa associadas aos campos de refugiados e preservar o meio ambiente local. A abordagem inclui o plantio de árvores em escala e programas de cozinha limpa, sistemas de energia solar e redução do desperdício de plástico.

As primeiras árvores plantadas há quatro anos agora fornecem sombra suficiente para as famílias cultivarem, algo que antes não era possível.

“Antes, na época da seca, o sol era tão forte que queimava tudo”, lembra Zara Maina, do ACNUR. 

Vista do céu, a transformação do local em poucos anos é impressionante. Imagens de vídeo filmadas em 2018 mostraram vastas extensões de areia ao redor de edifícios e abrigos. Agora a terra está coberta de vegetação. Mas o progresso caminha a passos lentos já que refugiados e moradores locais ainda precisam de gás para cozinhar.

Para atender a essa necessidade, o ACNUR e a FLM estão promovendo fontes alternativas de energia. As famílias no campo podem enviar seu lixo doméstico para centros de produção onde refugiados treinados os transformam em carvão que pode ser usado em fogões devidamente adaptados. 

Abdul Aziz, da FLM, diz que o “carvão ecológico” reduziu a necessidade de cortar árvores para lenha, bem como as tensões entre refugiados e moradores. Enquanto os refugiados se voluntariam para trabalhar no viveiro e no plantio de árvores, a produção de carvão se tornou uma fonte de renda para muitas famílias. 

Fibi Ibrahim, refugiada e mãe de cinco filhos que vive em Minawao desde 2016, faz parte de uma cooperativa de cerca de 100 mulheres que produzem e vendem carvão e fogões adaptados em Minawao. 

“O dinheiro que ganho com a venda de briquetes de carvão me permite comprar sabão, temperos e carne para complementar as refeições da família”, diz Fibi. “Espero que em breve, quando tiver economizado dinheiro suficiente, possa abrir minha própria loja no campo e suprir totalmente as necessidades da minha casa”.