Refugiados iraquianos contribuem para o sucesso do filme "Guerra ao Terror"
Refugiados iraquianos contribuem para o sucesso do filme "Guerra ao Terror"
AMAN, Jordânia, 1 de abril (ACNUR) – Nader e Ala'* estavam extasiados quando “Guerra ao Terror” ganhou este ano o Oscar para Melhor Filme e Melhor Diretor. O filme sobre um especialista em desativar bombas ajudou a refocar a atenção mundial sobre o sofrimento de sua terra natal, o Iraque, e eles tiveram um envolvimento pessoal na sua produção.
Os dois estavam entre os cerca de 20 refugiados iraquianos contratados para trabalhar como figurantes no filme, que a diretora Kathrin Bigelow filmou quase todo na Jordânia, uma vez que o Iraque ainda está muito perigoso, sete anos após a queda do falecido presidente Saddam Hussein. Nader e Ala’ fugiram de Aman para Bagdá em 2004 e 2005, respectivamente, depois de serem perseguidos por suas crenças religiosas.
Eles levaram quase três semanas trabalhando em várias locações com Bigelow e sua equipe, ganhando o equivalente a 20 dólares por dia. A Comissão Real de Filmes da Jordânia, um valioso parceiro do ACNUR, facilitou a produção do filme, que segue a unidade de eliminação de explosivos do exército norte-americano lidando com a ameaça diária de terrorismo – a mesma que Nader e Ala’ conviveram um dia.
“Eu estou feliz que o filme tenha ganhado um prêmio”, declara Nader, que teve uma pequena fala no trabalho finalizado. Tanto ele quanto Ala’ parabenizaram os atores, diretora e produtores pelo sucesso do filme – “Guerra ao Terror” ganhou seis estatuetas do Oscar e muitos outros prêmios de prestígio internacional.
Nader e Ala’ declararam o quanto foi importante para eles participarem do filme, que descreve o perigo que civis e soldados enfrentam com carros bomba, suicidas e explosivos improvisados no Iraque. “Nós nos sentimos muito tristes com tantas explosões que acontecem de verdade, quotidianamente”, declarou Nader.
Os dois refugiados iraquianos apareceram em cenas coletivas filmadas em áreas urbanas e disseram que foi um trabalho árduo. “Havia muitas cenas sofisticadas de explosão”, lembra Ala’. Ele aparece numa cena tensa no início do filme, na qual o especialista em eliminação de bomba interpretado por Jeremy Renner neutraliza um carro bomba. “Tivemos que correr... e nós fugimos mesmo”, lembra Ala’.
Os figurantes também agradeceram seu trabalho no filme “Guerra ao Terror” pois isso representou uma importante fonte de renda. A agência responsávle pelo elenco procurou empregar iraquianos para representar iraquianos. “ O filme é sobre o Iraque e é importante que iraquianos estejam envolvidos”, explicou George Noruri, diretor de elenco. “Os iraquianos passaram por essas dificuldades e podem verdadeiramente mostrar suas emoções”, afirmou.
Prioridade foi dada aos iraquianos mais necessitados, mas os diretores de elenco também procuraram por pessoas com alguma experiência anterior em atuação. “Ficamos felizes em participar. Para nós foi uma fonte de renda que precisávamos para cobrir aluguel e outras despesas”, comentou Ala’.
Nader sempre gostou de atuar e - embora seu pai não deixou estudar esta arte na faculdade - já participou em filmes iraquianos e em programas de TV em língua árabe desde que chegou à Jordânia. Ele estava trabalhando como servidor público quando as forças lideradas pelos Estados Unidos depuseram o presidente iraquiano Saddam Husseim em 2003, e fugiu para a Jordânia um ano mais tarde depois de ser ameaçado e atacado. Ala’ também tivera alguma experiência em atuação no Iraque, pois estava envolvido com a produção de vídeos musicais. “Trabalhar neste filme não foi minha primeira experiência e eu fiquei realmente contente quando me convidaram para ser figurante”, ele disse.
Ele e sua família fugiram do Iraque depois que Ala’ foi raptado e severamente machucado. “Fomos perseguidos e ameaçados. Mesmo o local onde morávamos era uma ameaça para nós e nossas famílias”, ele disse.
A maioria dos refugiados iraquianos contratados como figurantes em “Guerra ao Terror” já foi reassentada em outros países. Nader e Ala’, que receberam assistência financeira do ACNUR, esperam que um dia tenham o mesmo destino e nenhum dos dois pensa em retornar ao Iraque.
* Os nomes foram trocados por questões de segurança
Dana Bajjali em Amman, Jordânia