Refugiados rohingya correm para reforçar abrigos à medida que as monções se aproximam
Refugiados rohingya correm para reforçar abrigos à medida que as monções se aproximam
Eles têm quatro estacas de bambu de 7,5m que servem como pilares de sustentação, fornecidos como parte de um kit dado pelo ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados. Os kits contêm também peças mais finas de bambu, lonas e ferramentas como martelos, pregos e amarras de plástico para impermeabilizar o abrigo e proteger das chuvas de monções esperadas no mês de março.
"Nós agora temos o que precisamos para construir, e, se Deus quiser, o abrigo permanecerá firme enquanto estamos aqui", disse Hafsa.
Durante as primeiras semanas, após o final de agosto, quando os refugiados rohingya chegaram de Mianmar em Bangladesh, houve pouco tempo para planejar a localização ou a construção de moradias. Qualquer bambu ou revestimento que pudesse ser adquirido localmente foi usado para montar os abrigos e fornecer proteção básica.
Agora que o fluxo de deslocamento diminuiu - deixando 655 mil refugiados encurralados nesta área, a maioria no campo estendido de Kutupalong - o foco está em fornecer melhores materiais para os abrigos, ajudando os refugiados a construir estruturas mais robustas e, sempre que possível, a realocar famílias para terrenos mais estáveis.
As ações têm como objetivo salvar vidas antes que a estação chuvosa comece, dentro de alguns meses. Depois disso, esta planície localizada entre colinas se tornará suscetível a deslizamentos de terra e inundações.
"Nós temos uma enorme quantidade de trabalho a fazer", disse Richard Evans, especialista em abrigos do ACNUR em Cox's Bazar. "Antes da chegada das monções, precisamos mover o maior número de pessoas para um terreno mais alto e continuar a fornecer os kits de abrigo".
Até agora, o ACNUR já distribuiu 30 mil kits de abrigo e tem o objetivo de chegar a 80 mil em março. Ao todo, existem cerca de 100 mil abrigos em Kutupalong.
Para seguir adiante nessa segunda fase, o ACNUR e seus parceiros estão trabalhando com líderes comunitários para aconselhar as famílias no posicionamento de suas casas, além de ajudar na construção. O apoio adicional a milhares de famílias no amplo assentamento inclui cavar canais de drenagem e canalizar a fumaça das fogueiras usadas para cozinhar.
Entre os refugiados apoiados está Salim, de 80 anos, que conseguiu tornar seu abrigo mais resistente com a ajuda da BRAC, uma ONG local parceira do ACNUR e seus vizinhos.
Ele construiu prateleiras, uma área de armazenamento e um capacho de bambu elevado. Os lados de seu novo abrigo são feitos de lona e amparados por bambus, divididos habilmente em fibras mais finas, uma técnica comum no campo. Tudo isso deve tornar a moradia melhor durante as tempestades que estão por vir.
"Eu construí esse abrigo com a ajuda de outras pessoas", disse ele. "Nossas necessidades são grandes, mas mantemos esse abrigo limpo e arrumado e tento melhorá-lo quando posso".
Existe um componente comunitário na construção de abrigos em um acampamento. A atividade ajuda os jovens que têm pouca perspectiva de emprego a se sentirem valorizados. Em muitos casos, as comunidades e famílias que viveram juntas em Mianmar, e que talvez tenham feito juntos a jornada de deslocamento, se ajudam na construção.
De fato, as técnicas e os materiais não são tão diferentes dos usados por eles no estado de Rakhine, ficando de fora talvez apenas as fundações de concreto e a madeira, para os que tinham mais dinheiro.
Um dos desafios em Kutupalong é ambiental. Quando os refugiados chegaram em grande número no ano passado, muitos usaram a vegetação como lenha, por vezes arrancando as raízes. Isso, por sua vez, agrava o problema dos deslizamentos e da erosão do solo quando as monções chegavam. A água da chuva vai escorrer pelas encostas, enchendo as piscinas existentes de água estagnada em terras mais baixas.
O ACNUR vem tentando compensar o dano ambiental fornecendo cascas de arroz comprimidas para serem usadas como combustível. Já o bambu vem de fontes sustentáveis na região de Chittagong.
Um plano também está sendo criado com antecedência para reforçar os abrigos após as monções. Até agora, presume-se que o modelo de bambu e lona seja mantido. Os tipos de tendas e caravanas utilizados em outras áreas de refugiados não são adequados para a topografia e o clima da região.