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Sabores de Ander: um pouco da Venezuela no Peru

Histórias

Sabores de Ander: um pouco da Venezuela no Peru

26 Fevereiro 2018
Ander, um refugiado venezuelano no Peru, em seu restaurante em Lima. © ACNUR/Magui Masseroni
LIMA, Peru, 26 de fevereiro de 2018 (ACNUR) - Viver de gastronomia em um dos países com os melhores chefs e restaurantes do continente é um desafio para qualquer um. Especialmente quando o que você cozinha não é uma comida típica do Peru.  Marquesas, hallacas, tequeños, arepas, bombas e empanadas são algumas das comidas feitas e vendidas por Ander, um empreendedor venezuelano que aceitou o desafio.

"Quando cheguei há quatro anos, havia apenas dois lugares de comida venezuelana", conta Ander, que obteve seu status de refugiado logo após fazer a solicitação. "Naquela época eles não conheciam a arepa, as bombas, não conheciam a comida venezuelana. Então era muito mais difícil. O peruano está muito arraigado em sua comida, então não foi fácil competir. Eu fui entrando pouco a pouco”, ele acrescenta.

Ander e vários membros de sua família foram forçados a sair de seu país de origem devido a uma situação de ameaça e violência. "Tivemos que viajar por terra, não havia passagens aéreas devido à alta demanda, ou estavam custando o dobro do preço. Viajamos por 5 dias", diz enquanto corta pimentas na sala de sua casa.

No começo, Ander teve que superar muitos obstáculos. Às vezes, não vendia toda a mercadoria do dia, e saía perdendo porque precisavam ser consumidas no mesmo dia.  No entanto, ele não desistiu. Continuou cozinhando, buscando opções, se capacitando e sempre ajudando outros venezuelanos ao longo do caminho.

"Nós tivemos que viajar por terra, não havia passagens aéreas devido à alta demanda, ou estavam custando o dobro do preço. Viajamos por 5 dias".

"Eu ajudo aqueles que chegam a encontrar um lugar para morar, já que também me ajudaram muito", conta. Hoje em dia, ele divide casa com seu tio, solicitante de refúgio, e também vende comida venezuelana em feiras e recebe encomendas. Os vendedores com quem trabalha são principalmente venezuelanos. "Eles trabalham comigo até conseguirem outro emprego: é uma ajuda para eles começarem a trabalhar".

Ander sempre gostou de gastronomia, embora tenha estudado administração e trabalhado em ramos como estética e computação em seu país de origem. Quando chegou ao Peru, mudou de rumo e começou a cozinhar pratos que sabia fazer, como hallacas, e tamales salgados recheados com guisado. "É um prato típico venezuelano no mês de dezembro. Nos dias 24 e 31, sempre haverá esse prato em nossas mesas. Vem da nossa cultura afro-americana da era colonial, quando os escravos africanos na Venezuela recolhiam as sobras do que as pessoas deixavam nas mesas e começaram a preparar esse prato. E a partir daí ficou muito gostoso e muito saboroso", diz.

Ander, um refugiado venezuelano no Peru, trabalhando em seu restaurante. © ACNUR/Magui Masseroni

 

Com o apoio do grupo Encuentros-Servicio Jesuita de la Solidaridad, uma fundação no Peru que implementa os programas do ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, ele pôde contar com apoio e aconselhamento para seu treinamento em um dos Centros de Educação Técnica Produtiva (mais conhecida como CETPRO), e também pôde fazer o curso "Criar e Empreender" no Ministério da Produção.

O curso de empreendedorismo lhe ajudou muito porque lhe ensinou "sobre o produto que deve vender, como vender, e em qual mercado deve focar". "Eu acho que o mais importante para qualquer pessoa que sai de seu país é possuir uma habilidade, uma ferramenta de trabalho que possa usar em qualquer parte; eletricidade, corte e costura, cabelereiro", reflete Ander.

"Ele é uma pessoa persistente, estratégica e sempre com vontade de aprender e ajudar seus companheiros", diz Diana Palomino, chefe de Meio de Vida da Encuentros -SJS.

Atualmente ele se sente tranquilo já que a maioria de sua família chegou a Lima. "O venezuelano compartilha muito. Valorizamos muito as relações familiares", afirma. Este ano, ele também está animado para desenvolver uma série de projetos que lhe permitirá expandir o seu negócio e fazer o que mais gosta: produção em grande escala para negócios e empresas.

Por um lado, Ander realiza estudos físicos, químicos e biológicos sobre marquesas (sobremesa venezuelana), com a intenção de vendê-las em grandes quantidades para obter o dinheiro para investir em uma máquina de corte de massa que iria lhe poupar até cinco horas de trabalho por dia. Por outro lado, ele sonha em ter seu próprio programa online. "Quero publicar aulas de cozinha no YouTube, para ensinar as pessoas a cozinhar, mas para isso tenho que melhorar meu espaço, montar uma cozinha plana", conta.

A história de Ander é apenas uma entre milhares de histórias de venezuelanos que foram forçados a deixar seu país. Entre 2014 e dezembro de 2017 mais de 100.000 venezuelanos solicitaram refúgio pelo mundo e outros 190.000 têm procurado outras alternativas legais que lhes permitam permanecer na região de maneira regular, de acordo com informações de várias fontes coletadas pelo ACNUR e disponível no Portal de Dados do ACNUR.

No Peru, estima-se que em outubro de 2017 mais de 15.000 solicitantes de refúgio da Venezuela tinham apresentado solicitações para a Comissão Especial para os Refugiados (CEPR). O Peru continua a demonstrar a sua solidariedade com o povo venezuelano, tanto em relação às pessoas que necessitam de proteção internacional, como os refugiados, bem como adotando medidas para facilitar a regularização migratória pela licença de permanência temporária (PTP), que atualmente permite aos venezuelanos que tenham entrado no território nacional até dia 31 de dezembro de 2018 que vivam um ano no Peru.