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Atleta refugiada afegã rompe barreiras ao competir na Paralimpíada de Paris no taekwondo

Comunicados à imprensa

Atleta refugiada afegã rompe barreiras ao competir na Paralimpíada de Paris no taekwondo

Zakia Khudadadi recomeçou vida do zero na França com ajuda do esporte; um ‘milagre’, nas suas palavras
26 Agosto 2024
Zakia Khudadadi saiu vencedora do evento de qualificação europeia para Paris 2024

Zakia Khudadadi saiu vencedora do evento de qualificação europeia para Paris 2024

Zakia Khudadadi ganhou as manchetes competindo em Tóquio 2020 poucos dias depois de uma saída angustiante de seu país natal, o Afeganistão. Ela agora mora em Paris, na França, e venceu o Campeonato Europeu de Taekwondo de 2023 na categoria até 47kg, dedicando sua vitória às mulheres de sua terra natal. 

No taekwondo, ela fez história ao se tornar a primeira mulher afegã a competir num evento desportivo internacional desde que houve a troca do poder no Afeganistão, em agosto de 2021. 

Leia o emocionante relato sobre sua vida: 

“Nasci em Herat, no Afeganistão, e comecei no esporte aos 9 anos com o sonho de competir nas Paraolimpíadas. Consegui e conquistei a primeira medalha internacional da história do país no meu esporte. 

No Afeganistão capacitei pessoas com deficiência e trabalhei na defesa do direito das mulheres. Vivia em país inseguro, com explosões diárias.

Apesar desses desafios, nunca vacilei no meu compromisso e alcancei o meu objetivo. 

Quando cheguei na França, tive que começar do zero. Foi incrivelmente difícil – eu não sabia o idioma e fui separada da minha família, que estava no Afeganistão. Felizmente, eles conseguiram vir para a França, onde viveram em num centro de refugiados por quase dois anos. 

Do ponto de vista do desenvolvimento no esporte, perdi muitas competições importantes enquanto esperava para ter meu estatuto de refugiada. A jornada tem sido estressante em muitas frentes.

Minha vida foi uma luta constante. Cresci no Afeganistão, enfrentei um mundo em que a deficiência nem sempre era compreendida. Para evitar ser bullying, dos 7 aos 15 anos eu costumava cobrir a mão com um lenço grande para esconder a minha deficiência. Aos 10 anos, tentei o suicídio porque me sentia oprimida por uma sociedade que não me entendia. Porém, sobrevivi e voltei ainda mais forte. Lutei durante anos para provar que a deficiência não é uma limitação.

Zakia Khudadadi carregou a tocha olímpica em Tóquio 2020

Zakia Khudadadi carregou a tocha olímpica em Tóquio 2020.

O esporte tem sido como uma luz e um milagre na minha vida.  Da menina que escondia a mão sob o lenço, tornei-me uma atleta reconhecida mundialmente. O esporte se tornou o milagre que deixou as pessoas ao meu redor e os meus compatriotas orgulhosos de mim. 

Conquistei três medalhas que têm grande significado em minha vida. A primeira medalha que ganhei na história do meu país foi muito especial para mim e para o povo do Afeganistão. 

Outro destaque foi o ouro que ganhei no Campeonato Paraolímpico Europeu de 2023, que foi especialmente significativo porque aconteceu na perto da data em que tive que fugir do meu país.

Zakia Khudadadi conquistou a medalha de ouro no Torneio de Classificação Europeu para Paris 2024, garantindo a sua participação na Paralimpíada de Paris 2024.

Zakia Khudadadi conquistou a medalha de ouro no Torneio de Classificação Europeu para Paris 2024, garantindo a sua participação na Paralimpíada de Paris 2024.

A terceira medalha foi o ouro que ganhei para garantir minha vaga nas Paraolimpíadas de Paris 2024. Aconteceu no Dia Internacional da Mulher, 8 de março, e a dediquei a todas as mulheres do meu país que são privadas dos seus direitos mais básicos. 

É uma grande honra porque represento milhões de refugiados portadores de deficiência nestes Jogos e participarei com imenso orgulho. Gostaria de mostrar que somos exemplos de paz, aceitação, coragem, amizade e igualdade. Espero que possa inspirá-los e incentivá-los a seguir seus sonhos.” 

Zakia Khudadadi com Malala Yousafzai, ativista paquistanesa que ganhou um prêmio Nobel. “Inspiração para todas as mulheres ao redor do mundo”, disse a atleta afegã em foto publicada nas redes sociais.

Zakia Khudadadi com Malala Yousafzai, ativista paquistanesa que ganhou um prêmio Nobel. “Inspiração para todas as mulheres ao redor do mundo”, disse a atleta afegã em foto publicada nas redes sociais.

Após décadas de conflito, o Afeganistão enfrenta uma das maiores crises humanitárias do mundo: mais de metade da população necessita de assistência humanitária. O sistema de saúde está em colapso, os impactos crescentes das mudanças climáticas acentuam pobreza e a insegurança alimentar, e as mulheres e as meninas têm acesso limitado aos direitos humanos fundamentais, incluindo o direito à educação e ao trabalho. 

A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) trabalha para fornecer ajuda humanitária vital e apoio às necessidades básicas. Mais de 23,7 milhões de pessoas no Afeganistão e 7,3 milhões de afegãos e membros da comunidade anfitriã em cinco países vizinhos precisam de apoio em 2024. 

No Brasil, o ACNUR lidera a resposta emergencial de acolhida a pessoas refugiadas do Afeganistão, fornecendo abrigo, ajuda humanitária, aulas de português e apoio para que elas se integrem ao país. Você pode fazer parte dessa missão: saiba mais e doe agora. Não perca também a chance de aquecer o coração de refugiados recém-chegados e deixe uma mensagem de boas-vindas para eles.