Em São Paulo, equipamentos públicos e organizações buscam no trabalho em rede a garantia dos direitos das pessoas refugiadas
Em São Paulo, equipamentos públicos e organizações buscam no trabalho em rede a garantia dos direitos das pessoas refugiadas
Os desafios da proteção internacional e o acesso a direitos por pessoas refugiadas e migrantes em São Paulo, assim como os potenciais cenários a partir do deslocamento forçado por mudanças climáticas. Esses foram os principais tópicos de debate da 1ª Formação de Trabalho em Rede para Atendimento a Pessoas Refugiadas, promovida pelo ACNUR nesta quarta-feira, 6, na capital paulista.
A capacitação alcançou 10 profissionais ligados a equipamentos públicos municipais, além da equipe de Aldeias Infantis, organização parceira do ACNUR para o acolhimento de pessoas refugiadas na Zona Sul de São Paulo, e da Sefras – Ação Social Franciscana. Estiveram representados Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), Centro de Referência e Cidadania da Mulher (CRCM), e Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes (CRAI).
“A partir de diferentes experiências vividas pelos participantes, compartilhamos os principais desafios enfrentados no dia a dia do atendimento a pessoas refugiadas e migrantes em São Paulo. Com essas trocas, estimulamos o debate sobre como ter um atendimento humanizado e como o trabalho em rede e a articulação entre diferentes atores pode contribuir para a garantia dos direitos dessa população”, explica o assistente de campo do ACNUR, Felipe Santoro Pinheiro.
Sheila Mara do Santos é coordenadora do CRAS Vila Mariana, na Zona Sul da capital, e, em 10 anos de atuação, foi a primeira vez que participou de uma capacitação voltada especificamente para o atendimento da população refugiada. “Precisamos trabalhar em rede. Eu trabalho com assistência social e muitas vezes a pessoa precisa também de atendimento que envolvem outras políticas públicas, como educação e saúde. São muitos desafios que demandam o envolvimento de diferentes áreas do serviço público. Esse trabalho em rede já é difícil com a população brasileira. Com pessoas refugiadas, ainda têm os desafios da língua e da cultura”, afirmou. “Infelizmente, o atendimento a pessoas refugiadas tende a aumentar, e é importante que a rede do município esteja preparada para atender a essa população”, completa.
“É importante trabalharmos em rede para garantir que os direitos dessas pessoas não sejam negligenciados. É um trabalho conjunto para que elas consigam se restabelecer de forma digna no Brasil”, destacou a agente de Desenvolvimento Familiar e Comunitário no Aldeias Infantis, Bárbara Ribeiro. Para ela, a formação foi importante para se pensar o atendimento não apenas a partir de quem trabalha nos equipamentos públicos, mas também para quem, como ela, encaminha para os atendimentos. “Um dos principais desafios é o idioma. Muitas vezes, os profissionais que atuam nesses equipamentos têm dificuldade de entender as solicitações das pessoas refugiadas, e as pessoas também têm dificuldade de entender as orientações. Precisamos pensar em formas de superar essas barreiras”, destaca.
A formação também abordou potenciais desafios a partir do deslocamento causado por mudanças climáticas e desastres naturais. “Temos feito um mapeamento da população refugiada e migrante que hoje se encontra em locais mais sensíveis a esses impactos, sobretudo causados por chuvas intensas e deslizamentos. Apresentamos nossa análise a partir das visitas que temos feito ao território e indagamos como a rede tem se preparado para isso”, completou Felipe.
A partir dessa primeira formação, a intenção é que o trabalho em rede seja aprimorado. Para isso, novas formações estão previstas ao longo dos próximos meses, também com temas ligados à proteção, ao atendimento de pessoas refugiadas em São Paulo e a prevenção aos efeitos extremos das mudanças climáticas.