Em São Paulo, ação em rede leva escuta e atendimento a comunidade de pessoas haitianas
Em São Paulo, ação em rede leva escuta e atendimento a comunidade de pessoas haitianas
Um mutirão promovido na última semana por ACNUR, Missão Paz e Educação Sem Fronteiras buscou promover a empregabilidade entre pessoas haitianas que vivem em São Paulo. Além da produção e cadastro de currículos, os atendimentos buscaram ouvir as demandas da comunidade e compreender as diferentes barreiras para o ingresso no mercado de trabalho – desde dificuldade com a língua portuguesa, problemas com documentação migratória, demandas de saúde e assistência social, entre outras.
Os atendimentos foram realizados no horário das aulas de português promovidas pela ESF, tanto a estudantes quanto a demais pessoas interessadas. Profissionais da Missão Paz fizeram a escuta qualificada, o cadastro dos currículos e o encaminhamento para os serviços disponíveis. Para tornar a ação mais acessível, os atendimentos também foram oferecidos em créole. No total, 25 pessoas foram atendidas.
“Nessa ação, fizemos a escuta das pessoas, no contexto em que moram, conhecendo onde vivem, as limitações que enfrentam. Isso aproxima muito mais a compreensão da vida delas e o entendimento de diferentes aspectos que influenciam na empregabilidade. Mesmo tendo como foco o cadastro de currículos, a partir da escuta, fizemos encaminhamentos também para outras áreas, como saúde e documentação”, explica Marcelo Taniguti, coordenador de Programa de Inserção Laboral na Missão Paz, apoiado pelo ACNUR.
Há quase um ano no Brasil, Esperancia Charies chegou ao mutirão em busca de uma recolocação no mercado de trabalho. Com experiência em hotelaria, ela trabalhava há até pouco tempo como auxiliar de limpeza, mas agora encontra-se desempregada. “Não tenho muitos diplomas, mas eu gosto de trabalhar. Por exemplo, com limpeza, como auxiliar de cozinha, essas coisas. Quero muito trabalhar no Brasil, porque aqui, vivo sozinha. É bastante duro”, afirma. Para ela, a principal dificuldade ainda está no idioma.
Assim como Esperancia, muitas outras pessoas que buscaram o mutirão relatam dificuldade em se integrar à sociedade brasileira pela limitação do idioma. De acordo com o presidente da ESF, Adriano Abdo, aprender português acaba sendo um primeiro e importante passo nesse processo. “A empregabilidade é um pilar muito importante para o desenvolvimento de qualquer comunidade. Receber a Missão Paz no projeto da Educação Sem Fronteiras, no âmbito da parceria com o ACNUR, é construir outras possibilidades para além da sala de aulas. Essas ações contribuem com o fortalecimento da autonomia e dignidade dos nossos alunos, promovendo a integração social e econômica e criando um impacto a curto, médio e longo prazo na vida de toda a comunidade”, completa.
Outra barreira relatada por muitas pessoas atendidas no mutirão é a comprovação de experiência. Há 7 anos no Brasil, Papocilte Sainvil consegue se comunicar com facilidade em português e tem se dedicado à formação profissional em diferentes áreas. Porém, esbarra na falta de experiência. “Estou em busca de uma vaga para pintura automotiva. Fiz um curso aqui no Brasil em 2019, gostei bastante, mas nunca tive a oportunidade de trabalhar na área. Para todos os trabalhos que tentei, pedem pessoas com experiência. Mas se eu não tiver um primeiro emprego na área, como vou ganhar experiência?”, questiona.
“Para o ACNUR, essa atuação em rede, entre organizações e empresas, é fundamental para promover a empregabilidade das pessoas refugiadas e migrantes. Muitas empresas não estão acostumadas a abrir oportunidades nesse sentido, e realmente acabam impondo exigências na contratação que desconsideram a situação em que elas se encontram”, explica a associada de Soluções Duradouras do ACNUR, Camila Sombra. “Nessa ação, temos a Educação Sem Fronteiras, que promove aulas de português voltadas para a integração socioeconômica dos alunos e alunas, e temos a Missão Paz, que possui mais de 50 empresas parceiras mobilizadas para a contratação de pessoas refugiadas e migrantes. E viemos até a comunidade para tornar ainda mais acessível o atendimento para quem não tem condições de buscar os serviços”, completa.
A partir do mutirão, a expectativa é que as pessoas atendidas não apenas encontrem oportunidades nas empresas parceiras da Missão Paz, mas também sigam os atendimentos na organização para as demais demandas – como atenção à saúde e regularização de documentação. Da mesma forma, o ACNUR irá seguir com o apoio às aulas de português, por meio da ESF, nas comunidades.