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Cortes no financiamento ameaçam a saúde de quase 13 milhões de pessoas deslocadas

Comunicados à imprensa

Cortes no financiamento ameaçam a saúde de quase 13 milhões de pessoas deslocadas

Este é um resumo do que foi dito pelo Chefe de Saúde Pública do ACNUR, Dr. Allen Maina – a quem pode ser atribuído o texto citado – na coletiva de imprensa de hoje no Palácio das Nações, em Genebra.
28 Março 2025
Mohamed, uma criança refugiada sudanesa de dois anos com anemia, é examinado em uma clínica no Cairo administrada pelo parceiro do ACNUR, Refuge Egypt.

Mohamed, uma criança refugiada sudanesa de dois anos com anemia, é examinado em uma clínica no Cairo administrada pelo parceiro do ACNUR, Refuge Egypt. 

Sem recursos adequados, estima-se que 12,8 milhões de pessoas deslocadas, incluindo 6,3 milhões de crianças, possam ficar sem intervenções de saúde essenciais em 2025, alertou hoje a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).

A atual crise de financiamento humanitário, agravada pela redução dos gastos com saúde nos países de acolhida, está impactando a qualidade e o alcance dos programas de saúde pública e nutrição para refugiados e comunidades anfitriãs. Isso compromete o acesso a serviços essenciais e aumenta os riscos de surtos de doenças, desnutrição, falta de tratamento de condições crônicas e problemas de saúde mental.

Quando o apoio à saúde das pessoas refugiadas é reduzido, elas são forçadas a pagar do próprio bolso – o que muitas vezes não é possível – e enfrentam dificuldades para acessar serviços públicos já sobrecarregados, pressionando ainda mais clínicas e hospitais locais. Além disso, cortes no financiamento também afetam o abastecimento de água, o saneamento e a gestão de resíduos, aumentando os riscos de surtos de doenças infecciosas como cólera, disenteria, hepatite e malária, com consequências fatais. A redução dos recursos pode reverter significativamente os avanços no combate ao HIV em contextos humanitários.

Exemplos do impacto dos cortes no financiamento da saúde:

•    Bangladesh: cerca de 1 milhão de refugiados Rohingyas enfrentam uma grave crise de saúde devido ao congelamento do financiamento. Programas apoiados pelo ACNUR podem deixar mais de 40 mil gestantes sem cuidados pré-natais essenciais, colocando 5 mil em risco de parto em condições inseguras. Além disso, 19 mil crianças desnutridas podem perder tratamento vital, enquanto 10 mil pessoas refugiadas em condições de risco de vida não terão acesso a cuidados médicos especializados. Serviços de saúde mental também estão ameaçados, afetando até 200 mil refugiados potencialmente perdendo acesso a cuidados de saúde primários, incluindo saúde mental e apoio psicossocial. Além disso, 10 mil refugiados não receberão tratamento para hepatite C. Sem apoio financeiro imediato, os sistemas de saúde nos campos de refugiados entrarão em colapso, colocando milhares de vidas em risco.

•    Burundi: a suspensão de programas de nutrição em vários campos de refugiados pode deixar milhares de crianças sem tratamento adequado contra a desnutrição. Se o apoio adicional não for garantido, estima-se que 10 mil gestantes refugiadas percam acesso ao pré-natal, aumentando o risco de complicações e mortes maternas evitáveis. As instalações de saúde locais, já operando acima da capacidade, esperam um aumento no número de pacientes e surtos de doenças como a cólera, especialmente na província de Cibitoke, que recebe refugiados da República Democrática do Congo, onde 11 casos já foram registrados e estão sendo tratados.

•    República Democrática do Congo: o sistema de saúde está à beira do colapso. Os recursos financeiros alocados ao setor são inadequados para atender às necessidades urgentes de salvar vidas. O orçamento do ACNUR para saúde em 2025 foi reduzido em 87% em comparação a 2024, levando a consequências severas. Hospitais estão superlotados, enfrentando escassez crítica de profissionais e suprimentos médicos. Medicamentos essenciais estão acabando, e encaminhamentos para tratamentos especializados não estão mais garantidos. Com a interrupção do abastecimento de água, casos de cólera já foram registrados, aumentando o risco de surtos de doenças infecciosas. Espera-se que as consequências dos cortes de financiamento para a saúde sejam devastadoras, colocando mais de 520 mil pessoas refugiadas em risco elevado de doenças infecciosas e à perda de suas vidas.

•    Egito: todos os tratamentos médicos para refugiados foram suspensos, exceto procedimentos emergenciais. Isso inclui cirurgias programadas, tratamento para doenças graves e medicamentos para condições crônicas como diabetes e hipertensão, que, sem tratamento, podem ter consequências fatais. Pelo menos 20 mil pacientes serão afetados, incluindo muitos refugiados que fugiram da guerra no Sudão.

•    Etiópia (região de Gambella): cortes no financiamento impactaram gravemente os serviços de nutrição, levando ao fechamento de operações em quatro dos sete campos de refugiados apenas em fevereiro. Como resultado, nove crianças gravemente desnutridas foram encaminhadas para atendimento ambulatorial antes da recuperação completa e, provavelmente, não sobreviveram. Atualmente, 980 casos de desnutrição aguda são gerenciados por apenas dois profissionais, comprometendo gravemente o atendimento. Sem financiamento, 80 mil crianças de até cinco anos podem entrar em estado crítico de desnutrição, aumentando as taxas de mortalidade infantil e impactando severamente as condições de saúde a longo prazo. Fechar programas comunitários para saúde sexual e reprodutiva provavelmente levará a um aumento nas mortes maternas e neonatais.

•    Jordânia: devido aos cortes, 43 mil refugiados correm o risco de perder acesso à atenção primária à saúde e ao auxílio financeiro para tratamentos médicos, afetando 335 mil mulheres em idade reprodutiva que podem ficar sem cuidados essenciais para a maternidade.

•    Moçambique: o assentamento de refugiados de Maratane, que abriga 8 mil pessoas refugiadas e solicitantes de asilo, com comunidades anfitriãs vizinhas também contando com o assentamento para serviços como educação e assistência médica. No ano passado, um centro de assistência médica apoiado pelo ACNUR forneceu mais de 80 mil consultas a refugiados e membros da comunidade anfitriã. No entanto, esse apoio foi severamente impactado por um corte de 50% na assistência. As restrições de financiamento também levaram a cortes significativos em serviços de saúde mental e apoio psicossocial, assim como alimentos suplementares para melhorar a nutrição de 300 pessoas em necessidade destes produtos. Outros serviços críticos, apoiados por parceiros, como tratamento médico para sobreviventes de violência de gênero, assistência à saúde sexual e reprodutiva para mulheres e meninas, testes e tratamento de HIV e TB e encaminhamentos para assistência alimentar para mães HIV positivas, também foram afetados.

A estimativa de que 12,8 milhões de pessoas deslocadas podem ficar sem assistência médica foi baseada em uma pesquisa conduzida pela equipe de saúde do ACNUR em todas as operações globais da organização. Cada dia sem solução financeira agrava o impacto sobre milhões de mulheres, homens, idosos e crianças que fugiram de suas casas em busca de proteção.