Preservação do patrimônio cultural e fortalecimento da resiliência de refugiados indígenas venezuelanos no Brasil
Preservação do patrimônio cultural e fortalecimento da resiliência de refugiados indígenas venezuelanos no Brasil

Homem prepara farofa na Comunidade Indígena Sorocaima, em Roraima
Indígenas venezuelanos no Brasil, principalmente os povos Warao, E’ñepa e Taurepang, encontraram refúgio em várias regiões do país, incluindo terras indígenas brasileiras. Entre essas, a Comunidade Indígena Sorocaima, localizada na Terra Indígena São Marcos (RR), tornou-se um local significativo de acolhida. Os Taurepang, um grupo indígena brasileiro que fala a mesma língua e compartilha laços de parentesco com os Taurepang venezuelanos (também conhecidos como Pemon), têm acolhido essa população desde o agravamento da situação na Venezuela. Essa relação próxima facilitou a inclusão dos recém-chegados, que encontraram conforto nas semelhanças culturais entre a comunidade anfitriã e a sua própria.
Em meio ao deslocamento e às circunstâncias desafiadoras de serem desarraigados de sua terra natal, as comunidades indígenas venezuelanas têm se esforçado para preservar suas práticas culturais, como a preparação da farofa. Este prato tradicional, feito de farinha de mandioca, tornou-se um símbolo de resiliência e continuidade cultural. Sua preparação é uma atividade comunitária significativa para estas pessoas refugiadas, bem como para outros povos indígenas da Amazônia. O ato de se reunir para preparar este alimento não apenas sustenta a comunidade fisicamente, mas também reforça sua identidade cultural, servindo como um canal de diálogo entre os povos indígenas, bem como entre eles e os seres e não-humanos. Trata-se, portanto, de um elo vital com seu patrimônio cultural imaterial.
Como parte da abordagem de proteção comunitária da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) os esforços estão voltados para o apoio às comunidades indígenas por meio de programas que respeitem seu patrimônio cultural único e atendam às suas necessidades específicas. Em cooperação com o governo brasileiro e outros parceiros humanitários, o ACNUR oferece serviços que garantem um ambiente de proteção no qual esses refugiados indígenas podem manter suas práticas culturais enquanto recebem o apoio necessário para inclusão e subsistência. Em Sorocaima, por exemplo, o crescimento populacional levou ao desenvolvimento de planos de trabalho e geração de renda, especialmente por meio da agricultura familiar, o que tem sido fundamental para fortalecer a resiliência e a autossuficiência dos refugiados.
“A preparação da farofa, nesse contexto, simboliza mais do que sustento – ela promove o espírito comunitário e reforça a resiliência.”
A cultura alimentar compartilhada entre os refugiados indígenas venezuelanos e os Taurepang brasileiros fortaleceu os laços, promovendo a convivência pacífica. Essa troca cultural tem se mostrado vital para a coabitação dos dois grupos, pois compartilham costumes e tradições semelhantes enraizados em sua conexão ancestral. O papel do ACNUR nesse processo é criar um ambiente favorável para que essas práticas culturais prosperem, garantindo o bem-estar das comunidades deslocadas.
Ao apoiar iniciativas de preservação cultural, como a preparação de farofa, e ajudar a desenvolver oportunidades de subsistência, como a agricultura familiar, o ACNUR promove a resiliência e a coesão comunitária. Esses esforços são cruciais para manter a identidade cultural dos refugiados enquanto os capacitam para construir um futuro sustentável.
No entanto, permanecem desafios. As pessoas refugiadas indígenas enfrentam obstáculos como barreiras linguísticas, que dificultam o acesso a serviços essenciais e sua plena integração na sociedade brasileira. Persistem lacunas nos serviços de proteção, bem como na educação, saúde e recursos, destacando a necessidade de apoio contínuo do ACNUR e de seus parceiros.
O compromisso com a convivência pacífica com as populações indígenas brasileiras locais, como os Taurepang, continua sendo um pilar da abordagem do ACNUR. As experiências compartilhadas e o apoio mútuo entre as comunidades indígenas venezuelanas e brasileiras ressaltam a importância de programas culturalmente sensíveis que atendam às necessidades específicas das populações deslocadas. O ACNUR continuará focado na preservação das culturas indígenas, garantindo que os refugiados possam viver com dignidade, manter sua língua e práticas culturais e fortalecer as comunidades que os acolheram.